Gigantes da logística descobrem Miritituba.
A conclusão das obras da BR-163, meta que desta vez é prometida pelo
governo para o fim deste ano, terá um impacto direto na atividade dos
principais portos da região Norte do país. Santarém, que está localizada
estrategicamente no ponto final da rodovia, no encontro dos rios
Tapajós e Amazonas, passará a ter papel crucial para embarcar a produção
que subirá do norte do Mato Grosso, desafogando as estruturas saturadas
do Sul e Sudeste. Os cálculos preliminares estimam uma movimentação de
até 20 milhões de toneladas de grãos saídos de Lucas do Rio Verde,
Sorriso e Sinop. Essa nova rota também vai mexer com portos como
Santana, no Amapá, e os terminais de Vila do Conde, localizado no
município de Barcarena (PA).
Mudanças mais radicais, no entanto,
estão reservadas para o pacato vilarejo de Miritituba, pequeno distrito
que pertence ao município de Itaituba, polo de comércio de ouro no
interior do Pará. Por enquanto, o que existe na orla de Miritituba são
redes de pescadores à espera dos tucunarés. Nas poucas ruas da vila,
porém, a movimentação é intensa. Um novo porto começa a brotar na
Amazônia.
O vilarejo, cravado na margem direita do Tapajós, fica a
300 km de distância ao sul de Santarém. Para o produtor, isso significa
300 km a menos de estrada para percorrer até chegar ao destino final da
BR-163. É fato que grandes cargueiros não conseguirão subir até
Miritituba, por causa da pouca profundidade do Tapajós nesse trecho do
rio, mas as barcaças (chatas) conseguem carregar boa parte da produção,
que passará então a descer até Santarém pela hidrovia do Tapajós. Cada
comboio de barcaças pode transportar até 30 mil toneladas de grãos. Isso
equivale a mais de 800 caminhões de grãos. Trata-se de mais uma rota
fundamental que se abre para o escoamento.
Quase uma dúzia de
empresas especializadas em transporte de cargas já tratou de comprar
seus terrenos em Miritituba. Nessa lista estão companhias gigantescas,
como as tradings americanas Bunge e Cargill, que tocam o processo de
licenciamento ambiental de seus projetos e querem iniciar a construção
de seus terminais ainda neste ano. Operadoras logísticas como Hidrovias
do Brasil, Cianport, Unirios e Terfron também já demarcaram seus
territórios na vila.
Além da distância mais curta em relação aos
produtores de grãos do Mato Grosso, Miritituba guarda outras vantagens
em relação ao porto de Santarém. Seus terminais serão alcançados
diretamente por um acesso de 30 quilômetros da rodovia Transamazônica
(BR-230), que corta a BR-163. Por causa da sua localização, não há
necessidade de passar pelo centro de Itaituba, que está na outra margem
do rio. Em Santarém, onde a resistência de movimentos ambientais a
projetos portuários faz história, os caminhões carregados de grãos são
obrigados a cortar o centro da cidade para chegar ao porto.
Ruy
Baron/ValorItaituba, polo de comércio de ouro no interior do Pará:
distrito de Miritituba poderá se transformar em importante porto
Os
cálculos preliminares dão conta de que cerca de R$ 600 milhões deverão
ser investidos nos terminais de Miritituba. Mais R$ 1,4 bilhão são
calculados para compra de comboios de barcaças. Somente a Cargill, que
tem um terminal de cargas em Santarém em operação há dez anos, investirá
cerca de R$ 200 milhões no local. O plano é triplicar o volume de soja
exportado pela empresa em Santarém, saltando de 1,9 milhão de toneladas
para mais de 4 milhões de toneladas por ano.
"Miritituba
realmente passou a ser muito estratégica para o escoamento, porque vai
dividir a carga que seguiria até Santarém", diz Carlos Fávaro,
presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso
(Aprosoja). "Os projetos portuários estão caminhando rapidamente. A
rodovia fará integração com a hidrovia. Nossa expectativa é de que as
obras da BR-163 acompanhem esse mesmo ritmo."
Além de ser uma
rota bem mais barata que a estrada, a hidrovia polui radicalmente menos.
Na maioria dos casos, também é mais rápida que o transporte feito pelas
estradas. "Esse tipo de projeto ajuda a acabar com a situação injusta
que hoje penaliza o produtor, o único elo da cadeia que, de fato, produz
algo", diz o presidente do Conselho Temático de Infraestrutura da
Confederação Nacional da Indústria (CNI), José de Freitas Mascarenhas.
"O produtor é quem gera a riqueza. A partir dele, todos os demais fazem
apenas transferência de serviços. Não é possível que esse cidadão
continue a ser o que mais sofre com a limitação logística do país."
O
porto de Miritituba é um sonho antigo, alimentado há muito tempo por
ruralistas como o senador e ex-governador do Mato Grosso, Blairo Maggi
(PR-MT). Há 14 anos, Maggi partiu rumo ao Tapajós com um grupo de
produtores e mais de 70 caminhões de soja. Foram testar o potencial do
vilarejo como ponto de saída para os grãos. A aptidão se confirmou.
À
espera de investimentos, Miritituba segue o dia-a-dia comum a qualquer
vila do país. De seu pequeno terminal, partem balsas levando pessoas,
mercadorias e veículos até Itaituba. Na Transamazônica, uma pequena
placa de madeira, mal instalada, avisa que ali há uma área nova de
"porto". O Valor foi até o local. Os terrenos já foram cercados pelas
tradings e empresas de logística. (Colaborou Ruy Baron).MAGNOPOLÊMICO
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