Qualidade
de Vida no Trabalho
Nesta virada de milênio tem sido intenso o esforço
empreendido pelas organizações para sobreviver – e quanto a isso, acreditamos,
haverá pouca discordância –, como também tem sido enorme o desgaste e o
sacrifício impingido ao trabalhador moderno. Se a teoria da administração tem
sido pródiga na criação de novas ferramentas de gestão – afinal, surgem novas
propostas, antigas propostas são aperfeiçoadas ou, ainda, cunhadas com um novo
rótulo praticamente todos os dias –, infelizmente aquelas que visam
proporcionar uma melhor condição de trabalho e satisfação na sua execução – e
não apenas aumento do ganho pecuniário – ainda deixam muito a desejar.
ORIGEM E EVOLUÇÃO
Segundo RODRIGUES (1999), com outros títulos e em outros
contextos, mas sempre voltada para facilitar ou trazer satisfação e bem-estar
ao trabalhador na execução de suas tarefas, a qualidade de vida sempre foi
objeto de preocupação da raça humana. Historicamente exemplificando, os
ensinamentos de Euclides (300 a.C.) de Alexandria sobre os princípios da
geometria serviram de inspiração para a melhoraria do método de trabalho dos
agricultores à margem do Nilo, assim como a Lei das Alavancas, de Arquimedes,
formulada em 287 a.C., veio a diminuir o esforço físico de muitos
trabalhadores.
No século X, muitos pesquisadores contribuíram para o estudo
sobre a satisfação do indivíduo no trabalho. Entre eles destacamos Helton Mayo,
cujas pesquisas, conforme FERREIRA, REIS e PEREIRA (1999), HAMPTON (1991) e
RODRIGUES (1999), são altamente relevantes para o estudo do comportamento
humano, da motivação dos indivíduos para a obtenção das metas organizacionais e
da Qualidade de Vida do Trabalhador, principalmente a partir das pesquisas e
estudos efetuados na Western Eletric Company (Hawthorne, Chicago) no início dos
anos 20, que culminaram com a escola de Relações Humanas.
H. Maslow, que concebeu a hierarquia das necessidades,
composta de cinco necessidades fundamentais: fisiológicas, segurança, amor,
estima e auto-realização. Douglas McGregor, autor da Teoria X, por sua vez,
considerava, entre outras coisas, que o compromisso com os objetivos depende
das recompensas à sua consecução, e que o ser humano não só aprende a aceitar
as responsabilidades, como passa a procurá-las, conforme FERREIRA, REIS e
PEREIRA (1999). Essa teoria, aliás, na sua essência, busca a integração entre
os objetivos individuais e os organizacionais. Segundo RODRIGUES (1999), várias
das dimensões destacadas por McGregor são analisadas e consideradas em
programas de QVT.
Vale mencionar também Frederick Herzberg. As pesquisas desse
autor detectaram que os entrevistados (engenheiros e contadores) associavam a
insatisfação com o trabalho ao ambiente de trabalho e a satisfação com o
trabalho ao conteúdo. Assim, os fatores higiênicos – capazes de produzir
insatisfação – compreendem: a política e a administração da empresa, as
relações interpessoais com os supervisores, supervisão, condições de trabalho,
salários, status e segurança no trabalho. Os fatores motivadores – geradores de
satisfação – abrangem: realização, reconhecimento, o próprio trabalho,
responsabilidade e progresso ou desenvolvimento (FERREIRA, REIS e PEREIRA, 1999
e RODRIGUES, 1999).
HANDY (1995: 25), com base nessa realidade, declarou que:
“O problema começou quando transformamos o tempo em uma
mercadoria, quando compramos o tempo das pessoas em nossas empresas em vez de
comprar a produção. Quanto mais tempo você vende, nessas condições, mais
dinheiro fará. Então, há uma troca inevitável entre o tempo e o dinheiro. As
empresas, por sua vez, tornam-se exigentes. Querem menos tempo das pessoas que
eles pagam por hora, porém mais das pessoas que pagam por ano, porque, no
último caso, cada hora extra durante o ano é gratuita.”
CONCEITUANDO QVT E SUAS DIMENSÕES
Conforme FRANÇA (1997: 80),
“Qualidade de vida no trabalho (QVT) é o conjunto das ações
de uma empresa que envolvem a implantação de melhorias e inovações gerenciais e
tecnológicas no ambiente de trabalho. A construção da qualidade de vida no
trabalho ocorre a partir do momento em que se olha a empresa e as pessoas como
um todo, o que chamamos de enfoque biopsicossocial. O posicionamento
biopsicossocial representa o fator diferencial para a realização de
diagnóstico, campanhas, criação de serviços e implantação de projetos voltados
para a preservação e desenvolvimento das pessoas, durante o trabalho na empresa.”
A mesma pesquisadora esclarece que “A origem do conceito vem
da medicina psicossomática que propõe uma visão integrada, holística do ser
humano, em oposição à abordagem cartesiana que divide o ser humano em partes”
(p. 80). E conclui, ao afirmar que,
“No contexto do trabalho esta abordagem pode ser associada à
ética da condição humana. Esta ética busca desde a identificação, eliminação,
neutralização ou controle de riscos ocupacionais observáveis no ambiente
físico, padrões de relações de trabalho, carga física e mental requerida para
cada atividade, implicações políticas e ideológicas, dinâmica da liderança
empresarial e do poder formal até o significado do trabalho em si,
relacionamento e satisfação no trabalho.” (p. 80).
LIMONGI (1995) e ALBUQUERQUE e
FRANÇA (1997) consideram que a sociedade vive novos
paradigmas de modos de vida dentro e fora da empresa, gerando, em conseqüência,
novos valores e demandas de Qualidade de Vida no Trabalho. Para os referidos
autores, outras ciências têm dado sua contribuição ao estudo do QVT, tais como:
· Saúde – nessa área, a ciência tem buscado preservar a
integridade física, mental e social do ser humano e não apenas atuar sobre o
controle de doenças, gerando avanços biomédicos e maior expectativa de vida.
Anselmo Ferreira Vasconcelos
Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 08, nº
1, janeiro/março 2001 26
· Ecologia – vê o homem como parte integrante e responsável
pela preservação do sistema dos seres vivos e dos insumos da natureza.
• Ergonomia – estuda as condições de trabalho ligadas à
pessoa. Fundamenta-se na medicina, na psicologia, na motricidade e na
tecnologia industrial, visando ao conforto na operação.
• Psicologia – juntamente com a filosofia, demonstra a
influência das atitudes internas e perspectivas de vida de cada pessoa em seu
trabalho e a importância do significado intrínseco das necessidades individuais
para seu envolvimento com o trabalho.
• Sociologia – resgata a dimensão simbólica do que é
compartilhado e construído socialmente, demonstrando suas implicações nos
diversos contextos culturais e antropológicos da empresa.
• Economia – enfatiza a consciência de que os bens são
finitos e que a distribuição de bens, recursos e serviços deve envolver de
forma equilibrada a responsabilidade e os direitos da sociedade.
• Administração – procura aumentar a capacidade de mobilizar
recursos para atingir resultados, em ambiente cada vez mais complexo, mutável e
competitivo.
CONCEITUANDO QVT E SUAS DIMENSÕES
Conforme FRANÇA (1997: 80),
“Qualidade de vida no trabalho (QVT) é o conjunto das ações
de uma empresa que envolvem a implantação de melhorias e inovações gerenciais e
tecnológicas no ambiente de trabalho. A construção da qualidade de vida no
trabalho ocorre a partir do momento em que se olha a empresa e as pessoas como
um todo, o que chamamos de enfoque biopsicossocial. O posicionamento
biopsicossocial representa o fator diferencial para a realização de
diagnóstico, campanhas, criação de serviços e implantação de projetos voltados
para a preservação e desenvolvimento das pessoas, durante o trabalho na
empresa.”
A mesma pesquisadora esclarece que “A origem do conceito vem
da medicina psicossomática que propõe uma visão integrada, holística do ser
humano, em oposição à abordagem cartesiana que divide o ser humano em partes”
(p. 80). E conclui, ao afirmar que,
“No contexto do trabalho esta abordagem pode ser associada à
ética da condição humana. Esta ética busca desde a identificação, eliminação,
neutralização ou controle de riscos ocupacionais observáveis no ambiente
físico, padrões de relações de trabalho, carga física e mental requerida para
cada atividade, implicações políticas e ideológicas, dinâmica da liderança
empresarial e do poder formal até o significado do trabalho em si,
relacionamento e satisfação no trabalho.” (p. 80).
LIMONGI (1995) e ALBUQUERQUE e
FRANÇA (1997) consideram que a sociedade vive novos
paradigmas de modos de vida dentro e fora da empresa, gerando, em conseqüência,
novos valores e demandas de Qualidade de Vida no Trabalho. Para os referidos
autores, outras ciências têm dado sua contribuição ao estudo do QVT, tais como:
· Saúde – nessa área, a ciência tem buscado preservar a
integridade física, mental e social do ser humano e não apenas atuar sobre o
controle de doenças, gerando avanços biomédicos e maior expectativa de vida.
Anselmo Ferreira Vasconcelos
Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 08, nº
1, janeiro/março 2001 26
· Ecologia – vê o homem como parte integrante e responsável
pela preservação do sistema dos seres vivos e dos insumos da natureza.
• Ergonomia – estuda as condições de trabalho ligadas à
pessoa. Fundamenta-se na medicina, na psicologia, na motricidade e na
tecnologia industrial, visando ao conforto na operação.
• Psicologia – juntamente com a filosofia, demonstra a
influência das atitudes internas e perspectivas de vida de cada pessoa em seu
trabalho e a importância do significado intrínseco das necessidades individuais
para seu envolvimento com o trabalho.
• Sociologia – resgata a dimensão simbólica do que é
compartilhado e construído socialmente, demonstrando suas implicações nos
diversos contextos culturais e antropológicos da empresa.
• Economia – enfatiza a consciência de que os bens são
finitos e que a distribuição de bens, recursos e serviços deve envolver de
forma equilibrada a responsabilidade e os direitos da sociedade.
• Administração – procura aumentar a capacidade de mobilizar
recursos para atingir resultados, em ambiente cada vez mais complexo, mutável e
competitivo.
Em Condições de Trabalho mede-se as condições prevalecentes
no ambiente de trabalho. Envolve a jornada e carga de Trabalho, materiais e
equipamentos disponibilizados para a execução das tarefas e ambiente saudável
(preservação da saúde do trabalhador). Ou seja, esse tópico analisa as
condições reais oferecidas ao empregado para a consecução das suas tarefas.
O fator Uso e Desenvolvimento de Capacidades implica o
aproveitamento do talento humano, ou capital intelectual, como está em voga
atualmente. É forçoso, portanto, reconhecer a necessidade de concessão de
autonomia (empowerment), incentivo à utilização da capacidade plena de cada
indivíduo no desempenho de suas funções e feedbacks constantes acerca dos
resultados obtidos no trabalho e do processo como um todo.
Oportunidade de Crescimento e Segurança abarca as políticas
da instituição no que concerne ao desenvolvimento, crescimento e segurança de
seus empregados, ou seja, possibilidade de carreira, crescimento pessoal e
segurança no emprego. Neste fator pode-se observar, através das ações
implementadas pelas empresas, o quanto a prática empresarial está de fato
sintonizada com o respeito e a valorização dos empregados.
Essencialmente, em Integração Social na
Organização pode-se efetivamente observar se há igualdade de
oportunidades, independente da orientação sexual, classe social, idade e outras
formas de discriminação, bem como se há o cultivo ao bom relacionamento.
Constitucionalismo mede o grau em que os direitos do
empregado são cumpridos na instituição. Implica o respeito aos direitos
trabalhistas, à privacidade pessoal (praticamente inexistente no mundo
empresarial moderno), à liberdade de expressão (altamente em cheque, tendo-se
em vista as enormes dificuldades de trabalho com registro em carteira).
No fator Trabalho e o Espaço Total da Vida deveríamos
encontrar o equilíbrio entre a vida
Qualidade de Vida no Trabalho: origem, evolução e
perspectivas
Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 08, nº
1, janeiro/março 2001 27 pessoal e o trabalho. Todavia, como veremos mais
adiante, estamos muito distantes de uma prática minimamente ideal nesse campo.
Por fim, em Relevância do Trabalho na Vida investiga-se a percepção do
empregado em relação à imagem da empresa, à responsabilidade social da instituição
na comunidade, à qualidade dos produtos e à prestação dos serviços. Felizmente,
esses aspectos vêm tendo significativos avanços no campo empresarial.
1. COMPENSAÇÃO JUSTA E ADEQUADA Eqüidade interna e externa
Justiça na compensação Partilha de ganhos de produtividade
2. CONDIÇÕES DE TRABALHO Jornada de trabalho razoável
Ambiente físico seguro e saudável Ausência de insalubridade
3. USO E DESENVOLVIMENTO DE CAPACIDADES Autonomia
Autocontrole relativo Qualidades múltiplas Informações sobre
o processo total do trabalho
4. OPORTUNIDADE DE CRESCIMENTO E SEGURANÇA Possibilidade de
carreira
Crescimento pessoal Perspectiva de avanço salarial Segurança
de emprego
5. INTEGRAÇÃO SOCIAL NA ORGANIZAÇÃO Ausência de preconceitos
Igualdade Mobilidade Relacionamento Senso Comunitário
6. CONSTITUCIONALISMO Direitos de proteção ao trabalhador
Privacidade pessoal Liberdade de expressão Tratamento
imparcial Direitos trabalhistas
MAGNOPOLÊMICO//
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