quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012



Algumas Anotações sobre o Espiritismo e o Terceiro Milênio


Bismael B Moraes(*)
Muitas pessoas têm repetido, sem maior reflexão, que "o mundo passará por grandes mudanças e será melhor a partir do terceiro milênio". Entretanto, quando assim falam, não se referem ao "3º milênio da Era Cristã" (tomando por base o nascimento do Cristo, para os que se apresentam como seguidores do cristianismo). Parecem esquecer a recomendação do Mestre Jesus: "Conhece a verdade, e a verdade te libertará". E o Espiritismo, por suas conseqüências religiosas, é a doutrina da fé raciocinada. Ensina essa doutrina que não basta decorar o que se tenha lido ou ouvido, mas pede que pensemos a respeito de tudo, para que, conscientemente, tenhamos certeza do que sentimos e estejamos sempre prontos a aprender. Deve ser assim para quem se imagine adepto do Espiritismo cristão.
Baseada no tripé - filosofia, ciência e moral religiosa -, a Doutrina Espírita, também conhecida como a Terceira Revelação trazida pelos Espíritos superiores, registrada e perenizada na Codificação de Allan Kardec, é conhecida pelos seus seguidores e estudiosos - repetimos – como a "Doutrina da Fé Raciocinada". Com ela, além de analisarmos sobre o que somos, de onde viemos, o que estamos fazendo na Terra e para onde vamos após odesencarne (a morte do corpo), aprendemos que não devemos apenas repetir o que lemos e ouvimos, pois temos, como Espíritos encarnados, seres inteligentes da Natureza e com tarefas definidas para o nosso progresso, a obrigação de raciocinar acerca de tudo e só aceitar aquilo que possa enfrentar a ciência, face a face, sem temer a verdade. Somos dotados do livre-arbítrio por Deus e podemos escolher, conscientemente, sobre o que entendemos como certo e bom.
A ciência prova que a Terra existe há bilhões de anos. A origem do ser humano, segundo os pesquisadores, remonta a três bilhões de anos. E os registros históricos mostram que as religiões e as manifestações das crenças têm milhões de anos, com as mais variadas formas de misticismo e os questionamentos de seus seguidores. As civilizações do mundo criaram seus horóscopos, marcando o tempo de nascimento de suas sociedades, e têm seus calendários, nem sempre cientificamente comprovados, mas dogmaticamente seguidos e festejados. Assim, fala-se de horóscopo chinês, horóscopo asteca, horóscopo incaico, horóscopo indiano, e outros, bem como de calendário egípcio, calendário grego, calendário judaico, calendário romano, calendário muçulmano, calendário eclesiástico, etc, com base em costumes e tradições.
Por exemplo, a civilização dos Incas existiu desde 20.000 a 100 anos antes de Cristo (a.C.); a civilização africana conta registros de pinturas de 6000 anos a.C.; a civilização egípcia, mais de 4000 anos a.C., assim como a civilização judaica; a civilização grega é de mais de 3000 anos a.C.; a indiana, além de 2500 anos a.C., como também a chinesa, e há outros registros que podem ser pesquisados. Veja-se, a propósito, que em 15 de setembro de 2007, foi comemorado por Israel o Ano 5767, e a China, em 2007, comemorou o Ano 4704, e outros apontamentos históricos poderiam ser lembrados.
Ainda, se fizermos uma busca na história das religiões, encontraremos, em várias épocas e em lugares mais diversos, Espíritos altamente evoluídos: são os chamados reveladores, missionários, guias ou líderes religiosos que, com os seus ensinamentos, foram e são bases morais para seus povos ou seguidores. Poderíamos citar alguns, como exemplos: Krishna, que viveu por volta do ano 2100 a.C. (antes de Cristo) e ensinava que "quando o corpo se dissolve, a alma vai para a região de seres puros; se a paixão a domina, ela vem de novo habitar a Terra"; depois,Moisés, cerca de 1700 anos a.C. (antes de Cristo), com o judaísmo, que originou a seita do cristianismo, a ele creditando-se a origem do Dez Mandamentos; em seguida, os divulgadores do bramanismo, mais ou menos 1400 a.C. (antes de Cristo), tendo o Brama como criador, superior, absoluto, com base no Livro dos Vedas, envolvendo ainda costumes, dogmas, mistérios, sacrifícios; e, já próximo dos 700 anos a.C. (antes de Cristo), veio Budha, dele nascendo o budismo, ensinando a "colocação da humanidade no caminho da mora.l e da Lei Divina"; mais adiante, viria Lao-Tse, na China, cerca de 600 anos a.C. (antes de Cristo), com o taoísmo, aconselhando "esquecer as ofensas e amar ao próximo como a si mesmo"; e, ainda na China, tem-se o filósofo Confúcio550 anos a.C.(antes de Cristo), criando-se o confucionismo, que ensinava: "Faze ao próximo como a ti mesmo; esquece as injúrias, mas não os benefícios"; e chegamos à Era Cristãcom Jesus Cristo e suas lições de amor, justiça, caridade e perdão, nascendo o cristianismo, inicialmente perseguido e, depois, tornando-se religião estatal (aceita pelo Estado Romano), pelo Edito de Milão, no ano 313 depois de Cristo (d.C.), por ato do Imperador Constantino.
Pois bem. Sabemos que "o progresso moral do mundo ou da humanidade se dará pelo progresso individual de cada um dos seus membros", como ensinam os Espíritos. Entretanto, como, via de regra, os espíritas são pessoas interessadas em aprender, aos poucos, vêm se tornando leitores cativos de muitas editoras, ora havendo obras sérias e edificantes, ora encontrando-se livros e artigos que não podem ser aceitos sem maior reflexão... Há, infelizmente, algumas obras e articulistas falando do Terceiro Milênio como se, partindo do ano dois mil da Era Cristão mundo estivesse se transformando em um ambiente melhor, e isso não dependesse das descobertas do ser humano em todas as épocas, do seu esforço e de sua reforma íntima, evitando o mal e persistindo no bem, em suas caminhada de progresso, caindo e levantando, sofrendo ou tendo sucesso, chorando e sorrindo, sempre em busca de "conhecer a verdade e se libertar".
Somos espíritas cristãos e, por isso, não podemos esquecer os registros da ciência e os ensinamentos dos Espíritos, bem como das lições de Allan Kardec e de seus seguidores éticos. A história (que é ciência), por exemplo, nos mostra, por intermédio de documentos, que, em razão de inúmeras divergências quanto a data do Nascimento de Jesus, o dia 25 de dezembro (Dia de Natal) foi uma criação do Papa Julio I, no Século IV d.C. (depois de Cristo), para evitar as "datas pagãs".
Ainda recentemente, em artigo para o jornal "Folha de S. Paulo" (12-3-2006, p.2), um dos grandes empresários brasileiros e que tem formação superior, ao criticar a situação econômico-social e política do mundo, depois de falar da China, da Índia, do Irã e dos Estados Unidos, afirmou: "Ninguém poderia imaginar que o século 21 seria aberto com tanta intranqüilidade". (Observe-se que, pelo costume, o articulista sequer se lembra de que estamos no "Século 21 da Era Cristã!).
Neste final, voltamos a chamar a atenção de todos para o ensinamento dos Espíritos superiores: sabemos que o mundo abriga a humanidade e que está é o resultado de bilhões de anos de lenta evolução. Por isso, como adeptos conscientes do Espiritismo, não devemos esquecer que o progresso moral é vagaroso e não se inicia partindo do ano 2001 da Era Cristãmas é de todas as épocas. Repetimos, com base nas lições da Doutrina Espírita, que a melhoria do Planeta Terra, para todos nós, dependerá do progresso individual de cada ser humano. Devemos aprender a perdoar, a diminuir nosso preconceito e amar ao próximo. E o modelo para isso acha-se na Questão nº 625 de "O Livro dos Espíritos": - Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo? E a resposta é: JESUS! Basta que sigamos suas lições e seus exemplos.
Como, de acordo com a ONU – Organização das Nações Unidas -, atualmente, o mundo tem aproximadamente sete bilhões de habitantes, distribuídos por mais de 200 países, e verificando-se, pelas estatísticas, que somente cerca de um terço (1/3) dessa população - mais ou menos 2,5 bilhões - são cristãos, estando os verdadeiros espíritas entre estes, de logo se vê que 2/3 dos povos da Terra não conhecem o cristianismo, mas todos – cristãos ou não - somos amparados pelos Espíritos do bem que, pela graça de Deus, estão em qualquer parte do Universo!
Por isso, como espíritas cristãos, seguidores e divulgadores da fé raciocinada, não estaríamos incorrendo em erro, ao afirmarmos ou aceitarmos, sem reflexão, "o terceiro milênio" (calendário da Era Cristã) como ponto para a regeneração do mundo, quando sabemos que a Terra tem bilhões de anos e que mais de 2/3 dos habitantes do nosso Planeta sequer conhecem os ensinamentos do Cristo, mas que, mesmo assim, há povos não-cristãos evoluindo e evoluídos, pois os Espíritos Mentores se acham em todos os cantos do mundo?
Jesus nos recomendou: orar e vigiar. Nossos alicerces são as lições do Cristo. Deus é a causa primária de todas as coisas. Razão, perplexidade, leveza e sabedoria devem ser dosadas pelo equilíbrio.Tenhamos cuidado com o que lemos e raciocinemos sobre o que ouvimos. Espiritualmente, somos seres eternos, independentemente de nossas concepções doutrinárias ou religiosas. Muita paz.
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(*) Bismael B. Moraes, advogado, Mestre em Direito Processual pela USP, membro da UDESP – União dos Delegados de Polícia Espíritas do Estado de S.Paulo, é Diretor de Ensino Doutrinário do Centro Espírita Ismael (Jaçanã, São Paulo, Capital) e participa dos programas "Espiritismo e Segurança Pública", às 5ª feiras, 17 horas, e "Jornal Nova Era", às 2ª feiras, 12 horas, na Radio Boa Nova 1450-AM, em Guarulhos/SP

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012


Troque o açúcar por estes sete substitutos saudáveis

Stévia, açúcar mascavo e mel são opções para preservar a saúde sem cortar a sobremesa

TAMANHO DA LETRA: Diminuir texto Aumentar texto
PUBLICADO EM 13/2/2012 POR MANUELA PAGAN
Bolos, tortas, doces, sorvetes e sobremesas são guloseimas que levam na receita o açúcar, componente apontado como vilão da alimentação saudável. Apesar de ser agradável ao paladar, o açúcar branco e refinado não carrega quantidades significativas de nutrientes e ainda recebe aditivos químicos no seu processo de industrialização. O resultado? Isso faz dele um alimento nocivo ao funcionamento do organismo. Tanto é que segundo pesquisadores da Universidade da Califórnia (EUA) o açúcar é tão perigoso quanto o álcool e o cigarro, e seu consumo também deveria ser controlado. Em artigo publicado pela revista Nature, os cientistas afirmam que ele é o responsável por problemas de saúde que vão além da obesidade e diabetes, também provoca a elevação do triglicérides, alterações no fígado e na hipertensão arterial.

Mas há uma saída para manter a saúde sem tirar o doce da alimentação: o jeito é substituir esse vilão por adoçantes (químicos ou naturais) mais saudáveis, que agregam valor nutricional à sua alimentação.

Mas vale lembrar que o abuso dos adoçantes também deve ser evitado, já que, em excesso, eles ativam os receptores de glicose no intestino. "Esse processo aumenta a glicemia - predispondo o diabetes - e o acúmulo de gordura no tecido adiposo", explica a nutricionista Thais Souza, da rede de lojas Mundo Verde. Conheça alguns adoçantes saudáveis e escolha o que melhor se adapta a sua rotina alimentar. Eles ainda são a melhor opção, principalmente quando comparados com o ciclamato, que, de acordo com uma série de pesquisas, contém substâncias possivelmente cancerígenas.  
  • Adoçantes de stevia - foto: Getty Images
  • Açúcar mascavo - foto: Getty Images
  • Açúcar demerara - foto: Getty Images
  • Adoçante em pó - foto: Getty Images
  • Mel - foto: Getty Images
  • Açúcar orgânico - foto: Getty Images
  • Adoçante líquido - foto: Getty Images
1 DE 7
Adoçantes de stevia - foto: Getty Images
Stévia 

Os adoçantes feitos à base de stévia são extraídos da folha da Stevia rebaudiana, uma planta de origem indiana. Essa opção figura entre as mais saudáveis, já que é de origem natural e não causa qualquer alteração na glicemia. "Ela adoça cerca de 300 vezes mais que o açúcar sem adicionar calorias à dieta", explica a nutricionista Bruna Pinheiro, do programa de emagrecimento Dieta e Saúde, que recomenda o uso em sucos, sorvetes, chás e pratos cozidos ou assados.  

Dividir pra quê?

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De que serve dividir o Pará, o segundo maior Estado do Brasil, para torná-lo mais administrável, se o modelo de desenvolvimento continuar o mesmo, velho de quatro décadas - e eficiente, até hoje, mas contra o Pará? Quem levou a esse resultado, vai querer mudá-lo?

O ano de 1975 foi fatal para a Amazônia, mas, acima de tudo, para o Pará. Eleito pela Assembléia Legislativa, onde o partido oficial tinha completo controle, o professor Aloysio da Costa Chaves queria fazer história. Antes de tomar posse, reuniu alguns dos melhores técnicos do Estado e lhes deu uma tarefa: preparar o plano de governo. Ele seria o primeiro governador paraense a levar um planejamento de diretrizes e de ação para a chefia do poder executivo. Não ficaria levado ao sabor das ondas.
Antes de ser acolhido pela Arena (Aliança Renovadora Nacional), por imposição de Brasília, que apenas consultou as principais lideranças estaduais sobre o nome já escolhido, Aloysio fora presidente do Tribunal Regional do Trabalho e reitor da Universidade Federal do Pará. Tinha o perfil ao gosto do general Ernesto Geisel, um descendente de alemães na presidência da república: era técnico, tinha trânsito político, era reconhecido como homem público e possuía autoridade. Reunia os elementos do autoritarismo tecnocrático que comandava o Brasil.
Ciente (ou onisciente) do próprio valor, Aloysio Chaves não prestou muita atenção à cor ideológica ou aos antecedentes dos técnicos com os quais se reunia quase diariamente num dos andares da sede do Banco da Amazônia, em Belém, que lhe fora cedido para preparar o seu governo. Queria um plano consistente, criativo e audacioso. Com ele, talvez pudesse impor à história do Pará uma nova cronologia: antes e depois de Aloysio da Costa Chaves.
Quando pronto, o Plano de Diretrizes e Ação do Governo correspondeu à expectativa de quem o encomendara: provocou impacto nacional. Pela primeira vez um governador biônico, que o poder central impunha aos parlamentos estaduais, criticava, ainda no nascedouro, a própria origem. O plano paraense apontava a hipertrofia do centralismo de poder no Brasil, que deixava ao planejamento local a tarefa de apenas aplicar os recursos que lhe eram destinados, com finalidade previamente estabelecida. Era uma camisa-de-força. Só a União podia realizar o planejamento inovativo. Aos Estados, restava o planejamento alocativo. Aloysio Chaves queria decidir, não ser só figurante.
Ele achava tão justa e normal a pretensão que, antes de tomar posse, foi à Alemanha, a convite do governo germânico. Os alemães estreitavam suas relações oficiais com o Pará, atuando em vários setores, a partir de um núcleo acadêmico, durante a gestão de Aloysio na UFPA. Ele estava em plena visita quando foi chamado com urgência a Brasília pelo homem que apadrinhara sua escolha: o general Gustavo Moraes Rego Reis, casado com uma paraense (irmã do influente advogado Otávio Mendonça, eminência parda em vários governos), o principal assessor militar do presidente.
Geisel ficara irritadíssimo pelas pretensões do governador biônico ainda nem empossado. O Estado de S. Paulo lhe dedicara seu principal editorial para elogiar sua postura de independência e crítica em relação a Brasília, afinada com as posições do principal jornal do país, antes aliado e agora adversário do regime militar. O presidente exigira o enquadramento do governador, sob pena de ser expurgado. E Aloysio se enquadrou, deixando de lado suas pretensões à história.
Certamente ele e sua equipe de técnicos deram a devida atenção ao II Plano de Desenvolvimento da Amazônia, que deveria dar continuidade ao pioneiro planejamento regional desencadeado pelo governo federal e iniciado em 1953, com a SPVEA (Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia), que antecedeu o capítulo seguinte dessa história, no Nordeste, posterior, mas muito mais comentado.
O planejamento voltava a ser qüinqüenal (1975/79) e, além do rigor técnico, trazia outra inovação: a Amazônia deixava de ser considerada como área autônoma, com identidade própria. A região teria que desempenhar um papel no conjunto da economia nacional, ainda vivendo as ilusões de prolongar o “milagre econômico”, criado pelo governo militar anterior (do general Garrastazu Médici).
O mago do “milagre”, Delfim Neto, não era bem visto pelos novos inquilinos do Palácio do Planalto. Foi mandado para a embaixada em Paris. O novo tecnocrata-chefe, o piauiense João Paulo dos Reis Veloso (ainda em plena atividade, do lado do balcão da iniciativa privada e das ONGs), sabia que não podia continuar a alimentar as altas taxas de crescimento do PIB com poupança externa. Essa fonte de capital tinha que ser substituída. O melhor substituto era a Amazônia, com seus abundantes recursos naturais, em especial os minérios, que começavam a ser revelados do subsolo e se tornavam acessíveis através das estradas de rodagem.
O que a Amazônia não podia ter era a pretensão à autonomia, a decidir seus destinos. O governo central lhe impunha a integração compulsória à economia nacional, atrelada, por sua vez, ao mercado internacional. Só assim podia agregar ao país o que ele mais cobrava dela: divisas em moeda estrangeira, através de exportação crescente e saldo na balança comercial. Projetada para um primeiro qüinqüênio, essa diretriz seguiu sem descontinuidades até hoje.
O Pará é o quinto maior exportador do Brasil e o segundo em saldo de divisas. É o terceiro maior exportador nacional de energia bruta, que gera o efeito multiplicador econômico nos locais para os quais essa energia se destina. Essa face do projeto foi plenamente cumprida: antes do II PDA o Pará era um traço no comércio exterior brasileiro.
Mas a outra face também foi moldada: mesmo tendo a 9ª maior população nacional, o Estado é o 16º em IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e o 21º em PIB per capita (a riqueza, que é drenada para o exterior em maior volume, dividida pela população, que cresce mais em função da imigração intensa). É um efeito previsto pelos formuladores do plano, que adotou um modelo de desenvolvimento “desequilibrado corrigido”.
Para crescer rápido e oferecendo ao mercado produtos de aceitação mundial (as commodities), o Pará - como a Amazônia - tinha que incorporar empreendimentos de capital intensivo e alta tecnologia, capazes de colocar no exterior mercadorias a preços competitivos. O efeito nocivo desse modelo é concentrar os benefícios, deixando de fora aqueles que não têm condições (por sua qualificação ou por sua quantidade) de participar do processo produtivo em escala mundial.
Aí entraria o governo. Por um ato de vontade, corrigiria os muitos desequilíbrios do modelo com ação redistributiva ou saneadora. Como as distorções são efeito natural do modelo, que inevitavelmente acarreta desequilíbrios de várias naturezas (social, econômico e espacial), a correção, por ser um ato de vontade, requer o planejamento para orientar e dar eficiência à ação pública.
Impondo a perversão do modelo, o governo federal não podia abrir mão daquilo que o governador eleito Aloysio Chaves reivindicava na passagem de 1974 a 1975, o ano primeiro tanto do seu plano quanto do governo federal: o planejamento inovativo - e não apenas o que lhe cabia no modelo autoritário de Brasília: o planejamento alocativo, de alocação de projetos e verbas definidos por - e de - Brasília.
Cabe à biografia do ex-reitor o mérito de pelo menos haver tentado um novo caminho. Pesa-lhe sobre os ombros, porém, ter recuado de forma tão desastrada, limitando-se a partir daí a polir as insignificâncias, como todos os que o sucederam. Depois dele, porém, as tentativas de afirmação das lideranças locais, quando existiram, foram apenas formais, retóricas, de brincadeira.
Quando a democracia foi restabelecida no Brasil, em 1985, essa conquista não teve qualquer significado prático nas relações centro-periferia, na questão regional, desprezada pelos intelectuais do centro dominante, de esquerda ou de direita (para os primeiros, por ser a forma primitiva do capitalismo a ser modernizada, nem que à força, como na URSS; para os segundos, por ser tão somente uma fonte de riquezas a explorar).
Os governos estaduais amazônicos não só perderam em conteúdo político das suas lideranças como foram renunciando à busca pelo planejamento criativo, que é a razão de ser do planejamento como momento político. Afinal, se não se pode tomar a iniciativa, se o planejamento não é precedido pelo poder de decidir, os Estados continuariam a fazer o que Brasília quer e a repetir o que proclama.
E assim tem sido sempre, tanto na chefia do poder executivo estadual quanto nas casas parlamentares (e até mesmo nas academias, reduzidas a tertúlias intelectuais). Os nativos deixaram de pensar grande, de acompanhar em cima os atos decisórios e, preparando-se para decidir, poder realmente decidir, com domínio do conhecimento. A Amazônia tem tido a grandeza de cenário, não a de ator, protagonista.
É esse o pano de fundo que explica a pobreza do ambiente num novo momento importante da história regional. Os paraenses serão os primeiros brasileiros a decidir sobre a sua configuração espacial através de plebiscito. A novidade foi proporcionada pela constituição de 1988. Depois que a chamada carta magna entrou em vigor, apenas Goiás se dividiu para o surgimento de um novo Estado, o Tocantins.
Mas não foi preciso consultar a população: a emancipação da parte norte do novo Estado foi pacífica, consensual. Todos estavam de acordo que assim seria melhor, tanto para os moradores da nova unidade federativa quanto para os remanescentes de Goiás, que apostavam as fichas do crescimento incrementado na metade meridional do antigo Estado, desligado da sua metade atrasada.
A situação não é a mesma no Pará. Apenas parte da sua população está convencida de que só pode crescer mais se libertando do peso da atual configuração territorial, de 1,2 milhão de quilômetros quadrados, a segunda maior do país. Outra parte reage há décadas às pretensões emancipacionistas da zona Oeste, mobilizada em torno do Estado do Tapajós, e combate abertamente as pretensões dos moradores da fração Sul do Estado, que quer formalizar sua dissociação de fato através do Estado de Carajás.
Argumentos em favor da separação se sustentam em quase obviedades: o Pará é grande demais; Belém já demonstrou sua incapacidade para bem administrar as áreas mais distantes do Estado; e cada uma dessas partes formou identidade própria, seja pela migração intensa (caso de Carajás) como por uma aspiração secular (o Tapajós), que se realizou apenas pela metade, quando o país admitiu a autonomia da parcela ocidental da Amazônia, com a criação da província do Rio Negro (depois Estado do Amazonas, a seguir subdividido em Roraima, Acre e Rondônia, enquanto do Pará nascia o Amapá).
A primazia histórica de decidir sobre a territorialidade estadual está sendo desperdiçada. Uma questão grave se transformou em disputa de geral de campo de futebol e extensão das medíocres disputas escaramuças paroquiais. Rapidamente os temas de fundo foram afogados pelos impulsos emocionais e pelos interesses particulares, como se não estivesse em causa procurar uma saída para esse fato perturbador: quanto mais cresce, mais o Pará fica desequilibrado, sufocado por problemas sociais aparentemente insolúveis. Há riqueza em circulação, mas a ela raros têm acesso.
O modelo de desenvolvimento é o mesmo de 35 anos atrás: desequilibrado corrigido. Cada vez mais desequilibrado; cada vez menos corrigido. O resultado: os desequilíbrios se multiplicam e se agigantam. O Pará é líder em indicadores econômicos quantitativos e em índices sociais negativos. Essa combinação explosiva acarreta uma violência espantosa.
Ela se traduz em realidades objetivas, como a das mortes por encomenda, e em outras mais subjetivas, que escapam à percepção superficial, como a péssima qualidade da educação e as incivilizadas (ou selvagens mesmo) regras de convivência em aglomerações humanas, com ênfase nas suas grandes cidades, tensionadas por bolsões de guerras de verdade, embora não declaradas.
As lideranças, coniventes com esses paradoxos, ou que lhes deram causa, são as mesmas que carregam os estandartes das campanhas territoriais. Subordinam as teses aos seus interesses de tal forma que não conseguem ter unidade e nem se interessam por aumentar a consciência dos seus companheiros de luta. Querem massa atrás de si, como em todas as eleições, que mudam os nomes para manter as situações.
Mesmo os projetos de emancipação, formulados no parlamento federal por pessoas sem conhecimento de causa, não constituem o mais importante deste plebiscito inédito. Nenhuma das duas leis, aprovadas por acordo de lideranças de partidos ainda no âmbito da comissão técnica, sem passar pelo plenário das discussões e deliberações, não resistem a um teste de consistência.
O que eles mais deviam corrigir, é justamente o que mais negam: uma nova organização espacial para viabilizar os três Estados que surgiriam desse desenho irracional. O Tapajós sofrerá da mesma macrocefalia do atual Pará, enquanto Carajás será uma satrapia dos “grandes projetos”, ou da antiga Companhia Vale do Rio Doce, mais ao molde do “desenvolvimento desequilibrado corrigido” do que o atual Pará.
Numa medição de forças que não é ponderada pelo conhecimento de causa, a decisão pode resultar diretamente das grandezas numéricas ou seguir pelo desvio de uma manipulação de massa. Os dois elementos se encontram, em tese, sobre o tabuleiro de xadrez da disputa. Pela grandeza numérica, não há dúvida: a maioria rejeitará a separação no plebiscito de 11 de dezembro. A “zebra” dependeria da quantidade de recursos colocados à disposição do marketing, liderado pelo célebre Duda Mendonça - e de sua capacidade mágica de convencer a opinião pública.
Isso em relação à bipolaridade, que está em causa na consulta, sem, contudo, anular uma possibilidade pouco enfatizada: de que, ao invés de um ou três Estados, surjam dois Estados (o Pará, incluindo Carajás, e o Tapajós), se essa hipótese for trabalhada por aqueles que ela favorece (o que ainda não aconteceu).
Qualquer que venha a ser o desfecho desse novo momento da história brasileira, uma coisa é certa: se houver mudança, nada mudará; se não houver mudança, as portas da transformação terão sido abertas porque a situação não regredirá ao status quo ante pelo menos num ponto: de que as coisas que estão assim só têm que continuar assim como estão.
Mesmo que o Pará permaneça territorialmente como se acha, os líderes dos movimentos emancipacionistas terão alargado suas influências e alianças para pretender, em 2014, concorrer em igualdade de condições com os tradicionais representantes das elites da capital. O interior compreendido por Tapajós e Carajás poderá, enfim, conquistar o poder executivo estadual, complementando a consolidação do poder que já poddui no legislativo paraense, majoritariamente formado por políticos do interior.
Nesse caso, com nova autoridade, os emancipacionistas poderão voltar à batalha, em outras condições. Para ganhar, sem permitir, porém, que o Estado “leve” a conquista. Sem mudar aquelas diretrizes do II PDA, que sufocaram o plano do governador Aloysio Chaves, o Pará continuará a crescer como rabo de cavalo: para baixo. Com a ajuda coadjuvante dos líderes separatistas e conservadores, até agora os mesmos de sempre.
LFP @ outubro 1, 2011

sábado, 18 de fevereiro de 2012


Morre o polêmico blogueiro Amilton Alexandre, o Mosquito (Foto)
Geral - 13/12/2011 - 19h00min
   
Foto: Diego Wendhausen Passos
Atualizada às 10h00 de 14/12/11O polêmico blogueiro Amilton Alexandre, o Mosquito, de 52 anos, foi encontrado morto dentro da sua casa, por volta das 16 horas desta terça-feira (13).
Mosquito, apelido dos tempos da faculdade, ou Muska, era odiado e temido por muitos políticos catarienses, especialmente de Florianópolis, por suas duras e ácidas críticas, postadas no blog Tijoladas do Mosquito.

Amilton foi encontrado enforcado em seu apartamento, em Palhoça, o que sugere suicídio, segundo as autoridades policias que apuram o caso, mas a possibilidade de homicídio ainda não está descartada, apesar de não haver qualquer sinal de arrombamento na residência ou sinais aparentes de violência.

Dentre os 25 Boletins de Ocorrência policial feitos pelo blogueiro, levantados agora pela polícia, alguns eram sobre ameaças de morte.

Em seus últimos minutos de vida, estava conversando com um padre, amigo seu, através do computador. Ele teria deixado de teclar, e logo depois, o padre foi até a residência do blogueiro, encontrou a porta semi-aberta e o amigo enforcado com um lençol no corredor da escada. Mosquito morava só há oito anos, no loteamento Pedra Branca, em Palhoça.

Segundo, eu amigo, o jornalista e também blogueiro Sérgio Rubim, do Cangablog, "O secretário de segurança Walter Gruba determinou que uma equipe da diretoria de informação e inteligência do SSP se deslocasse até a casa de Amilton Alexandre. Por ser um personagem polêmico e visado, Gruba quer uma apuração detalhada sobre o caso."

Informações sobre um mandato de prisão, que teria sido expedido contra o Mosquito neste final de tarde, foram desmentidas.

O polêmico jornalista florianopolitano foi preso em 1979 por participar de protesto contra o general João Batista Figueiredo, último presidente da ditadura militar, e enquadrado na Lei de Segurança Nacional. Formado em Administração de Empresas pela UFSC, ele foi líder estudantil. Seu blog "Tijolhadas" lhe rendeu cerca de 30 processos por calúnia e difamação.

Izidoro Azevedo dos Santos (62 anos), advogado que defendeu Amilton em dois processos, levanta dúvida sobre o suicídio do blogueiro "terá mesmo o blogueiro se suicidado, ou sua morte terá sido obra dos incontáveis desafetos que cultivou, com suas enérgicas e contundentes denúncias de corrupção e lambanças políticas as mais variadas."

Santos, que é conhecido como Herbert, conta que "Um deles (dos desafetos), numa audiência em que eu estava presente, chegou a afirmar, na frente da Juíza, que saíra de casa para matar o Amilton, mas fora dissuadido do seu intento pela família e por amigos." Cuidadoso sobre essa ameaça, Herbert também postou em seu blog "Não posso afirmar que a morte do Mosquito tenha sido obra de gente ao serviço dele, citando a circunstância para lembrar o estado de exasperação em que chegaram os denunciados pelo blogueiro, com palavras contundentes e, não raro, consideradas infamantes, as quais engendraram inúmeros processos criminais e cíveis, contra os quais o acusado travava uma luta desigual, mesmo estando apoiado por simpatizantes."

Neste dia em que Moska será enterrado, Sérgio Rubim postou em seu blog "Ainda ontem li no twitter um jornalista dizendo que tudo que ele não fazia era jornalismo. Despeito!
Talvez para esse jornalista, praticar jornalismo é fazer assessoria de imprensa e colunas elogiativas de autoridades. Está enganado. Mesmo com diploma de Administração, o Mosquito fazia jornalismo. Morreu em plena atividade da profissão."

Rubim também comentou sobre o estado psicológio do Amilton Alexandre: "Sobre a sua morte, ele já vinha há dias mandando sinais de que pretendia dar cabo da vida. sozinho, sem dinheiro, com o seu blog fechado pela justiça, estava deprimido e parecia não encontrar saida para o fosso em que se meteu."

Amilton Alexandre encerrou seu blog no dia 9 deste mês, onde postou:
"Quem tem acessado o blog nas últimas semanas notou um vem e vai de informações, postagens deletadas e até comentários sobre a coragem do blogueiro nas suas manifestações.
O blog foi construído com o objetivo de denunciar corrupção, tratar de assuntos ligados a cidadania e versar sobre os mais diversos temas da blogosfera.
Durante todo esse tempo, minha atividade foi manter o blog com informações e denúncias.
O blogueiro, apesar de muitas vezes advertido, carregou nas tintas contra os políticos. Passou dos limites em alguns casos. Claro, colheu processos e condenações, aos quais recorre.
Mas contribuiu para tentar sanear a política catarinense. Não foram poucos os assuntos tratados aqui  transformados em inquéritos no Ministério Público e ações civis públicas.
Quem achou que havia financiamento de grupos interessados em obter vantagens com o que era publicado aqui, se enganou.
Tanta dedicação ao blog levou-me a um isolamento familiar, com oposição a minha atividade, problemas de saúde e outras dificuldades. Nas últimas semanas acusei o nocaute. Não tenho mais como enfrentar as ameaças e retaliações pelo que publico. É sensato dar um tempo.
Como diz um amigo meu: O que vc ganhou com o blog?
O ganho não foi pessoal, mas coletivo. Talvez um dia eu tenha a resposta para a minha parte.
Agora vou tentar me reestruturar numa atividade menos tensa. Preciso dar mais atenção a quem precisa: eu mesmo.
Passando pelo Cangablog vejo que o arsenal de maldades dos políticos não para. Vou deixar o Canga linkado aqui permanentemente. Devo dar alguns pitacos lá.
Aos meus leitores desejo bom Natal e um Ano Novo com saúde e paz."
A última postagem no blog do Mosquito, que não está mais no ar, havia o seguinte texto de Jerônimo Gomes Rubim:
E encerra suas atividades o polêmico blog Tijoladas do Mosquito. Por três anos, legislativo, judiciário, executivo e outras ôtoridades de SC tremeram nas bases com as denúncias e xingamentos do Mosquito.
Ele foi o primeiro a denunciar o escândalo da árvore de natal da Beira Mar Norte. O primeiro a falar sobre os estupro de uma menor envolvendo Sirotskys. Várias denúncias do blog, bem documentadas, estimularam investigações do Ministério Público e condenações. Chegou a ser citado na sentença de um juiz que condenava um prefeito do interior a devolver dinheiro público.Talvez não tenha feito jornalismo na forma e padrão convencional, disparando adjetivos tortos e alguns "filhos da puta" a mais. Ganhou mais de 50 processos por isso. Dependendo da teoria de análise, alguns vão dizer que nem jornalismo fez, era só denuncismo. Mas foi um defensor apaixonado da ilha e seu povo (nós), e fez o que o jornalismo local não faz: desmascarou, denunciou, investigou e provou irregularidades. Mostrou ali, no blog público e acessado por mais de cinco mil pessoas por dia, a mão grande e a completa desfaçatez de quem é muito bem pago para escolher por nós – e que faz questão de escolher apenas por eles.Deixa seguidores fiéis, que viram nesse justiceiro dos bytes a voz comunitária da indignação. A pressão, vocês devem imaginar, é terrível. No último achaque do poder, dava depoimento em processo movido por Dário Berger quando recebeu uma ilegal voz de prisão ao responder pergunta do promotor – que tem cargo público e não poderia estar ali.Tá tudo documentado no blog dele, aparece lá. Descubra um pouco mais sobre o que realmente acontece na sua cidade. Como ele mesmo escreveu, o blog entra para a história de Florianópolis.
"Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade." – George Orwell"

Rádio Criciúma


Carnaval paraense: um antigo enredo

EDUARDO ROCHADa Redação
A saudade sempre deu samba, e, por isso, nunca sai de moda. É, por exemplo, o caso dos antigos carnavais com suas marchinhas, blocos, escolas e foliões em geral. Em Belém e no interior do Estado, o carnaval tem história: desde o Século 17, a animação toma conta das ruas, dos salões dos clubes sociais, das escolas e blocos e dos paraenses em geral. Tanto que o carnaval paraense criou a figura da sambista, hoje esquecida nas programações, como, também, o porta-estandarte, personagem que até hoje enaltece o desfile das escolas de samba ao público. O passado e o presente do carnaval se entrelaçam sempre para saudar o futuro, como em shows e na passarela da Aldeia Amazônica David Miguel e eventos em distritos de Belém e municípios paraenses, como Bragança, Curuçá, Vigia, Ilha do Mosqueiro, Marudá, Arquipélago do Marajó, Salinas e Colares.
Um momento para matar a saudade, no meio da animação atual, será o show 'Velhos Carnavais', um show-baile que o músico e compositor Yuri Guedelha e o Sarau Brasil irão protagonizar no Teatro Waldemar Henrique, na praça da República, a partir das 20h. Vai ser uma oportunidade para se relembrar o ou conhecer as famosas marchinhas de carnaval e os mais belos e famosos sambas-enredo das escolas de samba do Rio de Janeiro e de Belém. No repertório, composições, ou melhor, marchinhas carnavalescas que antigos e novos foliões conhecem de cor: 'Jardineirinha', de Benedito Lacerda e Humberto Porto; 'Máscara Negra'’ de Zé Kety; 'As Pastorinhas', de Noel Rosa; 'Pierrot Apaixonado', de Noel Rosa; 'Ô Balance', de Braguinha - Alberto Ribeiro; 'Linda Morena', de Lamartine Babo; 'Bandeira Branca' de Max Nunes e Laércio Alves; 'Aurora', de Mário Lago-Roberto Roberti; ‘Ô Abre Alas’, que considerada como a primeira das marchinhas, composta em 1899 por Chiquinha Gonzaga (1847-1935).
NO SAMBA
A história do carnaval paraense começa comas primeiras notícias sobre o assunto datando do Século 17, de acordo com o historiador Vicente Salles, como informa o médico Alfredo Oliveira no livro 'Carnaval Paraense' (Secult, 2006). Neste período predominou o entrudo, 'um grotesto entretenimento nos dias de folia, que levava as pessoas a arremessarem líquido uma nas outras'. O entrudo foi trazido pelos colonizadores portugueses, e preponderou até meados do Século 19, cedendo espaço para novas práticas carnavalescas que por aqui chegavam, via marítima, principalmente de Pernambuco e Rio de Janeiro. Nos 'duelos' entre os participantes do entrudo eram utilizados desde água perfumada até misturas mal cheirosas em recipientes variados, como baldes, penicos e os 'limões de cera', ou seja, invólucros de cera. A Igreja Católica condenava esta iniciativa, publicando, inclusive, uma pastoral contrária ao trote carnavalesco, em 4 de fevereiro de 1784.
Três etapas tem a história do carnaval paraense, como afirma Alfredo Oliveira. São elas: Carnaval do entrudo - de 1695 a 1844; Carnaval pós-entrudo - de 1844 a 1934; Carnaval da era do samba - a partir de 1934. O carnaval pós-entrudo surgiu das novas práticas carnavalescas que chegaram ao Estado, destacando-se os bailes de máscaras, Zé Pereira, corso, clubes carnavalescos e o carnaval de rua com os sujos e mascarados, desfiles de cordões, blocos e carros alegóricos. O primeiro baile de máscara em Belém ocorreu no Teatro Providência, em 1844. Em seguida, o carnaval de salão tomou conta da capital paraense, todos os anos, em locais diferentes e animados por orquestra tocando um repertório variado, sem ainda as músicas específicas da quadra. Desse modo, valsas, quadrilhas, lundus, polcas e o maxixe animaram as festas, com direito a máscaras e fantasias. Somente no Século 20 explodiriam o samba e as marchinhas
BAILE
Dias após ter sido inaugurado em 15 de fevereiro de 1878, o Theatro da Paz sediou um baile de máscaras. Houve bailes de carnaval na Assembléia Paraense, Pavilhão de Recreio, Passeio Público, Alydea, Clube 7 de Janeiro, Dhália Paraense e o Clube dos Girondinos. Em 1899, não somente os clubes e teatros reuniam os foliões em festas, mas as casas contavam com os 'assustados', denominados assim por que costumavam pegar de surpresa os donos dos imóveis. Também havia folia em clubes no subúrbio da cidade e pensões da zona do meretrício, no centro de Belém. Passeatas ruidosas ao som de bumbos, com paradas em bares e botequins. Assim era o Zé-Pereira, uma manifestação cultural originária de Portugal, que começou no Rio de Janeiro.
O corso era formado por uma fila de veículos abertos ou de capota arriada transportando foliões à toda. Nos encostos dos bancos dos carros, senhoras e senhoritas vestiam fantasias e lançavam confetes, serpentinas e jatos de lança-perfume no público no antigo Largo da Pólvora, atual praça da República. Os carros fechados, tempos depois, contribuíram em muito para o término desta manifestação reunindo homens de terno, chapéu e gravata, e mulheres vestidas até os tornozelos. Nos clubes carnavalescos, nas duas primeiras décadas do Século 20, destacaram-se o Martelos de Prata, do Umarizal; Malhos de Ouro, da Pratinha; Fígaros de Belém, dos barbeiros da cidade; Regadores, cujo estandarte foi pintado por Teodoro Braga; Bilontras, da boemia da rua Riachuelo.
No final do Século 19 e começo do Século 20, juntaram-se ao Zé-Pereira os sujos e mascarados, cordões e blocos e desfile de carros alegóricos, principalmente na praça da República. Nos sujos e mascarados predominavam homens vestidos de mulher e vice-versa, além de caveiras, palhaços, bebês de chupeta, diabo e velho. Os cordões 'Roceiros', 'Pretinhos' e 'Marujos'.
Entre os primeiros blocos em Belém, no começo do Século 20, figuram Principado Brutamontes, Novos Fidalgos da Fancaria, Filhas da Manhã de Maio, Reque-reque e Pim-pam-pum. Em 1928, no Rio de Janeiro, os blocos deram lugar às escolas de samba. Em Belém, este processo concretizou-se em 1934. Tempos depois, por influência das escolas, os blocos assumiram novo formato. O desfile de carros alegóricos começava na rua 15 de Novembro. Alguns famosos são: Guará, Caixa d´Água, carros das sapatarias Leite e Boa Fama e os da Importadora de Ferragens. Em 1940 surgiram as barcas. A terceira etapa do carnaval paraense começa com as escolas de samba, constituindo-se um marco a fundação do 'Rancho Não Posso Me Amofiná', no Jurunas, em 1934, por iniciativa do operário Raimundo Manito.
As escolas de samba fizeram o carnaval das batalhas de confete (1934 a 1957) no Largo da Pólvora, o Bosque Rodrigues Alves, no Marco, e a Aldeia do Rádio, no Jurunas. Além do Rancho brilharam neste período as escolas 'Tá Feio', da Campina, 'Escola Mista do Carnaval', do Umarizal, 'Escola de Samba Uzinense', da Cremação. Nesta época surgiram a coroação do Rei Momo (Mário Alberto Valério Coelho, com 220 quilos, o 'Cuia', até hoje é o mais lembrado), o Círculo dos Cronistas Carnavalescos, a Rainha do Carnaval de Salão, o aparecimento das sambistas e a fundação de novas escolas de samba. O bancário Nagib Elias Eluan foi o primeiro Rei Momo do carnaval paraense. Desde a década de 40, a Rainha das Rainhas do Carnaval realça a folia no Estado, e o concurso é mantido atualmente pelas Organizações Romulo Maiorana. As sambistas, criação paraense, funcionaram como as rumbeiras do cinema mexicano, pela indumentária e rebolado, desfilando na frente das escolas ou baterias. Zilda, do Rancho, foi a primeira sambista de Belém.